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Editor do jornal Rascunho, Rogério Pereira lança novo livro em Curitiba

Após um hiato de nove anos, o jornalista, editor e escritor Rogério Pereira lança seu novo livro, Toda cicatriz desaparece (Editora Maralto, 208 p., R$ 44,90). A obra reúne 40 crônicas do autor escolhidas e organizadas por Luiz Ruffato.

Para celebrar a novidade, Rogério Pereira faz duas sessões de autógrafos. A primeira será em Curitiba, amanhã (17 de novembro), às 19h, na Livraria da Vila do Pátio Batel. Em seguida, no dia 26 de novembro, das 10h às 11h, ele estará em Paraty (RJ), na Casa PublishNews, durante a Flip 2022.

O trabalho com recordações e imagens da infância é o fio condutor da seleção. Nos textos — publicados entre 2009 e 2021 no site Vida breve e no jornal de literatura Rascunho — a memória não funciona apenas como fonte de temas e conteúdos, mas também como motor da criação literária.

A escrita, embora muitas vezes lírica, desenvolve-se sob o peso de uma infância que se desenha como uma batalha perdida, porém inevitável. Assim, assume-se o compromisso com o passado, encarando-o como uma velha pilha de fotografias.

“Como venho de uma família muito pobre e de pais semianalfabetos, a infância representa uma luta constante para tentar explicar o que sou, quem sou e como cheguei até aqui – a este ‘abismo’ perto dos 50 anos. A infância é um salto possível comigo mesmo o tempo todo”, explica Pereira.

Reminiscências

Ao interpretar as páginas de Toda cicatriz desaparece, o leitor que acompanha mais de perto a carreira de Rogério Pereira poderá notar que alguns textos revelam lembranças pulsantes e vivas no corpo, enquanto outros surgem como o retrato de um morto desconhecido que, independentemente de ser lembrado ou não, persiste como assombração, produzindo imagens fugazes e ásperas.

Transpondo dificuldades no percurso da vida, Pereira fundou em Curitiba, em abril de 2000, o jornal de literatura Rascunho — considerado uma referência entre as publicações culturais brasileiras. Ao ser questionado sobre o que despertou o gosto pela escrita, ele detalha a vontade de mudar para melhor.

“Foi um desejo absoluto de fugir do lugar de onde eu vinha: um lugar escuro, sem leitura, sem livros, sem água encanada, sem banheiro, sem luz elétrica. Um lugar onde era quase impossível olhar ao redor e refletir sobre este entorno”, conta.

Contexto

Segundo Luiz Ruffato, embora os textos reunidos possam ser lidos como fragmentos de uma autobiografia conturbada, eles formulam, por meio de um depoimento corajoso, uma reflexão importante sobre o passado, não apenas do narrador, mas do Brasil, um passado repleto de injustiças, humilhações, impasses.

Desse modo, a infância desenha-se como um quadro ambivalente, de alegrias e tristezas exacerbadas em um mundo hostil, em uma cidade que “em vão tentava acolher”, mas, ainda assim, repleta de descobertas possíveis.

Escrita minuciosa

Exigente em suas escritas, por vezes perfeccionista, Rogério Pereira fez pequenos ajustes nos textos para essa edição. Uns receberam cortes; outros, pequenos acréscimos. Títulos foram refeitos na busca de conferir uma maior coesão ao conjunto.

“Evitei repetições entre um texto e outro, pois foram escritos durante um espaço de tempo relativamente longo. Era necessário cotejá-los e ajustar uma coisa ou outra”, ressalta o autor, que tem contos publicados na Alemanha, na França, no Peru, no Equador, na Finlândia e na Argélia.

E quem ganha com isso é o leitor, que poderá desfrutar de uma impressionante homogeneidade na escrita, sempre limpa e cuidadosa, que o tornou um dos mais influentes nomes do jornalismo cultural brasileiro.

Dos primeiros beijos aos destinos trágicos ou banais dos colegas de escola, das derrotas em jogos e brincadeiras às pequenas alegrias de natais de escassez, Rogério Pereira evidencia em seu novo livro que, embora desapareçam, as cicatrizes precisam ser tocadas.

“Rogério Pereira é da família dos escritores que estão sempre remexendo suas próprias feridas, que, singulares em sua manifestação, transformam-se, por conta da linguagem, em experiências comuns a um enorme contingente de pessoas”, completa Luiz Ruffato.